quinta-feira, 13 de março de 2014

O FENÓMENO LITERÁRIO - 2º.ANO


FENÓMENO LITERÁRIO

1-      O escritor ou o emissor.

Tem-se ridicularizado a biografia, mais ou menos romanceada, como elemento de investigação. Tem-se igualmente desprezado as relações ser humano –obra, inúteis, é certo se se estabelece uma relação unívoca entre aquilo que viveu o escritor e o que ele escreveu. No entanto a verdade é que, na base da escrita, quer seja ficção, poesia ou crítica, há uma realidade inevitável que é o ser humano. Interessamo-nos demasiado pela história das ideias e pela escrita para desconhecer as armadilhas do humanismo. Todavia, não vemos por que razão o ser humano escritor seria totalmente eliminado da problemática literária. Pelo contrário, os métodos psico-críticos, psicanalíticos, as investigações a partir dos manuscritos dão uma nova vitalidade a esse tipo de pesquisa.

           

2-      O público ou o receptor

Este é um elemento básico a propósito da rececção literária. Deveremos aqui estabelecer uma diferença entre público e leitor e entre público e sociedade. Escreve-se numa determinada sociedade para um determinado público tendo, talvez, a imagem ideal de um leitor possível. È evidente que estamos aqui longe do socialismo generalizante que tantas vezes limita um estudo social da literatura. Trata-se isso sim, de estudos interdisciplinares que podem ser fornecidos pelo historiador; em troca, o investigador literário pode fornecer-lhe  dados sobre aquilo que a literatura diz sobre uma determinada época, aquilo que os contemporâneos dizem, em suma, aquilo que faz da literatura uma prática cultural.

3-      A mensagem ou o texto.

É apenas uma dimensão entre muitas outras do fenómeno literário. Para a estudar, os métodos descritivos, derivados sobretudo do estruturalismo, são um excelente recurso. Mas convém lembrarmo-nos, mais uma vez, de que um texto não existe isoladamente, não se basta a si mesmo. Além de implicar uma relacção com a cultura, com a sociedade, e de reflectir a própria vida do escritor, ele depende ainda de uma quarta dimensão, aquela que, esquematicamente, consideramos a última deste balanço teórico final.

4-      O modelo

Um texto literário é elaborado por um escritor por ( ou contra) uma instância social; é analisável no seu funcionamento, mas também na sua função. Ora a primeira resposta possível à questão da função do texto é o estudo do modelo organizador.  Aliás , a questão pode ser posta não só em relação aos textos literários mas também a todas as atividades culturais. Qual é o modelo estético-social utilizado? A partir do momento em que o escritor pode escolher entre vários modelos ( ou géneros literários) a escolha é um elemento de estudo importante. Põe-se uma questão que não é apenas estética, embora o fulcro da escolha seja estético. Portanto o estudo deverá estabelecer a relação complexa entre mensagem (3), público (2) e modelo estético e social (4).

Tudo isto nos leva a pensar na prioridade que o investigador, em função dos seus objetivos de pesquisa, deve dar a este ou àquele método. Por outro lado, o investigador deve situar o seu trabalho em relacção aos outros métodos se quiser evitar pontos de vista incompletos, parciais, leituras demasiado orientadas.

Não podemos esquecer também o elemento cultural, o elemento social, a equação pessoal do escritor, as orientações dominantes de uma época a que poderemos chamar ideologia.

O investigador literário nunca deverá esquecer-se de que a literatura não  é apenas o que se escreve, é também o que se pensa e o que se vive.

 

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