FENÓMENO LITERÁRIO
1-
O
escritor ou o emissor.
Tem-se ridicularizado a biografia, mais ou menos romanceada,
como elemento de investigação. Tem-se igualmente desprezado as relações ser
humano –obra, inúteis, é certo se se estabelece uma relação unívoca entre aquilo
que viveu o escritor e o que ele escreveu. No entanto a verdade é que, na base
da escrita, quer seja ficção, poesia ou crítica, há uma realidade inevitável
que é o ser humano. Interessamo-nos demasiado pela história das ideias e pela
escrita para desconhecer as armadilhas do humanismo. Todavia, não vemos por que
razão o ser humano escritor seria totalmente eliminado da problemática
literária. Pelo contrário, os métodos psico-críticos, psicanalíticos, as
investigações a partir dos manuscritos dão uma nova vitalidade a esse tipo de
pesquisa.
2-
O
público ou o receptor
Este é um elemento básico a propósito da recepção literária.
Deveremos aqui estabelecer uma diferença entre público e leitor e entre público
e sociedade. Escreve-se numa determinada sociedade para um determinado público
tendo, talvez, a imagem ideal de um leitor possível. É evidente que estamos
aqui longe do socialismo generalizante que tantas vezes limita um estudo social
da literatura. Trata-se isso sim, de estudos interdisciplinares que podem ser
fornecidos pelo historiador; em troca, o investigador literário pode
fornecer-lhe dados sobre aquilo que a
literatura diz sobre uma determinada época, aquilo que os contemporâneos dizem,
em suma, aquilo que faz da literatura uma prática cultural.
3-
A
mensagem ou o texto.
É apenas uma dimensão entre muitas outras do fenómeno
literário. Para a estudar, os métodos descritivos, derivados sobretudo do
estruturalismo, são um excelente recurso. Mas convém lembrarmo-nos, mais uma
vez, de que um texto não existe isoladamente, não se basta a si mesmo. Além de
implicar uma relação com a cultura, com a sociedade, e de reflectir a própria
vida do escritor, ele depende ainda de uma quarta dimensão, aquela que,
esquematicamente, consideramos a última deste balanço teórico final.
4-
O
modelo
Um texto literário é elaborado por um escritor por ( ou
contra) uma instância social; é analisável no seu funcionamento, mas também na
sua função. Ora a primeira resposta possível à questão da função do texto é o
estudo do modelo organizador. Aliás , a
questão pode ser posta não só em relação aos textos literários mas também a
todas as atividades culturais. Qual é o modelo estético-social utilizado? A
partir do momento em que o escritor pode escolher entre vários modelos ( ou
géneros literários) a escolha é um elemento de estudo importante. Põe-se uma
questão que não é apenas estética, embora o fulcro da escolha seja estético. Portanto o estudo deverá estabelecer a relação complexa
entre mensagem (3), público (2) e modelo estético e social (4).
Tudo isto nos leva a pensar na prioridade que o investigador,
em função dos seus objetivos de pesquisa, deve dar a este ou àquele método. Por
outro lado, o investigador deve situar o seu trabalho em relação aos outros
métodos se quiser evitar pontos de vista incompletos, parciais, leituras
demasiado orientadas.
Não podemos esquecer também o elemento cultural, o elemento
social, a equação pessoal do escritor, as orientações dominantes de uma época a
que poderemos chamar ideologia.
O investigador literário nunca deverá esquecer-se de que a
literatura não é apenas o que se
escreve, é também o que se pensa e o que se vive.
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